Em um julgamento no Tribunal do Júri de Taubaté/SP, uma advogada foi acusada pelo promotor de "rebolar" para convencer os jurados. A criminalista rebateu o promotor:
"Rebolando? O senhor me respeite. Está achando que estou aqui fazendo o que? Eu estou aqui trabalhando. Vai me desrespeitar porque sou mulher? O senhor meça suas palavras. Estou aqui exercendo a minha profissão, tanto quanto você."
O caso ganhou repercussão, sendo veiculado em diversos sites jurídicos com notas de repúdio ao comportamento do Promotor. A advogada se manifestou contra o machismo no Judiciário e recebeu mensagens de apoio de diversas advogadas que já passaram por situações constrangedoras.
Sim o machismo impera no Judiciário. Com mais de 20 anos de formada me recordo bem de escutar do sócio no escritório para colocar "decote" quando fosse despachar com o juiz, dito em tom jocoso para que desautorizasse qualquer resposta minha. Humor permite tudo, não é mesmo. Se é piada... não pode ofender.
O machismo estava dentro dos escritórios, nos corredores dos Fóruns, dentro das salas de audiência, dentro das salas da OAB. Estava na tribuna de segunda instância e nas mesas de audiência da primeira.
Mas... depois de ver o vídeo, entendo que a expressão "rebolando" foi utilizada como artifício linguístico. O termo foi utilizado para enfatizar que a advogada estava se esforçando e usando todos os seus argumentos para convencer os jurados.
Quem nunca "se virou nos trinta" para terminar uma tarefa em tempo recorde e não "rebolou" para pagar as contas do mês? Até mesmo a Nestlé fez campanha publicitária (conta la conta) onde o slogan era "Chega de rebolar para pagar suas contas, a Nestlé faz isso por você".
Acredito que foi sim uma expressão infeliz e não deveria ser dita por um promotor em pleno Tribunal do Júri. Eu provavelmente teria tido a mesma reação, pois nunca fui de engolir sapo de magistrado nem de promotor. E se pega a mania de falar gíria em sessão do Tribunal do Júri, imagina só? Se pega a mania para os promotores, porque se uma advogada/um advogado faz isso, a coisa muda de figura.
Recordo de uma vez ter sido inclusive ameaçada de crime de desacato, quando ao me reunir com um Promotor de uma das Varas Criminais de Franca, onde comecei a advogar nos anos de 2000, dei uma risadinha de um argumento que ele havia dito sobre um caso acerca do qual estávamos debatendo. Prontamente ele ameaçou: "Está rindo da minha cara doutora? Quer ir para a cadeia"?
Fato é que promotor e advogado deveriam estar no mesmo patamar no Tribunal do Júri. Um acusa. Outro defende. Mas não é assim que a banda toca e o advogado - juntamente com seu cliente - é o elo fraco da cadeia. A gente leva é porrada mesmo!
De qualquer forma, com todo o respeito que tenho à colega (e solidariedade) não vi machismo no uso da expressão. E para chegar a essa conclusão, fiz o exercício de substituir a advogada na cena por um advogado. A expressão faria sentido mesmo que fosse um advogado? Teria o mesmo sentido mesmo se fosse um advogado? Qual é o significado se dissermos a seguinte frase: o advogado está "rebolando para convencer os jurados"? Não, não vejo nenhuma conotação sexual ou misoginia na expressão.
Advogada combativa, merece meu respeito. Mas meu repúdio nesse caso não se deve a ter sido utilizado uma expressão supostamente machista (pois assim não vejo). Meu repúdio é à uma cena, a mesma que vemos todos os dias nos tribunais do país: mais um promotor querendo "cantar de galo" para cima de umix advogatix (pra não falar em gênero) e o juiz "se fazendo de surdo-mudo", como é muito comum de se ver nas varas penais onde magistrado e promotor geralmente funcionam como "dupla dinâmica" de Batman e Robin.
Fica ai o vídeo para quem quiser entender o que aconteceu.
Fonte: https://www.migalhas.com.br/quentes/377525/promotor-diz-que-advogada-rebolou-para-convencer-juri